“Esta semana… todo dia… Capítulo especial de ‘Vale Tudo‘!”. A Globo prometeu e entregou: a semana foi cheia de emoções, do vestido de noiva rasgado ao tapa de Solange em Fátima. E provou que o povo sente falta de tudo o que faz um novelão à moda antiga: acerto de contas, vingança, casamento luxuoso, passagem do tempo e mocinha no fundo do poço que agora terá muitos capítulos para dar a volta por cima.
Comecemos pela cena do vestido, que dominou as redes na segunda à noite e na terça. Impossível lembrar a última vez que uma novela deu quase 12 minutos para uma cena. Era algo comum nos anos 80 e 90, mas o hábito do controle remoto fez com que os editores pensassem que uma edição picotada segura mais o espectador. Ledo engano. Se a cena é boa, pode durar 30 minutos que mal vamos tirar o olho da tela para comentar no grupo do zap.
A cena do vestido foi exibida até mais na íntegra do que na versão de 1988, quando Raquel irrompia na maison da costureira dizendo que não iria haver mais casamento, e o resto ficava para o dia seguinte.
A Globo não fez isso para homenagear Gilberto Braga, mas para provar força à concorrência, que vinha com duas estreias no mesmo dia. Deu certo: a briga de Fátima e Raquel deu média de 25,2 pontos, contra 7 da série “Paulo, o Apóstolo” na Record e 3,1 da novela turca “As Filhas da Senhora Garcia”, no SBT.
A autora Manuela Dias mexe pouco no texto original de Gilberto nessas grandes cenas, em geral, só para enxugar um pouco do tempo. Como o texto original é perfeito, sempre se perde alguma coisa, mas a alma das grandes cenas segue firme.
Taís Araújo e Débora Bloch brilharam na cena do vestido, mas quanto a Bella Campos… é triste constatar que ela fica a anos-luz da Gloria Pires nesses grandes embates, reagindo às falas raivosas da mãe com a profundidade de um pires sem glória. Não importa: é a cena mais icônica da história das novelas, e o Brasil parou.
Na quarta, começou a formação da aliança do bem, de Raquel e Celina como a investidora secreta da Paladar, contra a aliança do mal de Fátima e Odete. Precisando fazer o dinheiro render, tia Celina saca um terço das economias para investir no restaurante de Raquel.
Pressionada por Odete, diz que fez um donativo. “Eu sei que a caridade não faz parte do perfil da elite brasileira, mas… às vezes acontece”. Como não amar você, tia Celina? Se algum dia os super-ricos pagarem mais impostos nesse país, prometemos poupá-la dessa dor de cabeça. Mas só você.
Na quinta, o casamento entregou Fátima num vestido deslumbrante entrando na igreja ao som de um blues elegante de Dinah Washington, bem ao estilo dos Roitman. Teve Odete dando em cima de Alok (OK, vamos crer que uma das cinco maiores fortunas do Brasil pagaria um mico desses com um famoso) e o bom embate entre Solange e Fátima, que durou bem menos do que a rasgação do vestido (perto de quatro minutos).
No final do mesmo dia, um outro clássico das novelas: meses se passaram, com toda a família Roitman (menos a pobre Celina) curtindo a vida na Europa, Odete à frente num belo iate ancorado em Capri (na real, em Angra mesmo). Heleninha e Ivan, com uma gola rolê alta em pleno calor do Rio para provar que virou italiano, voltam casados ao Brasil.
Na sexta, Raquel começou a se tornar a empreendedora mais bem-sucedida do Brasil, graças à ajuda de um lindo produto da l’Oréal –pois é: chega de grandes eventos, os merchans precisam voltar para a emissora faturar.
Agora é aguardar que todas as semanas de “Vale Tudo” sejam ao menos um pouco especiais, e que as cenas de novelão clássico, aquelas que aprendemos a amar desde pequenos, apareçam pelo menos de vez em quando.