Nova versão do clássico de 1988 é acusada de perder densidade crítica e de apostar em fórmulas superficiais, apesar do esforço do elenco e da direção
Desde sua estreia em março de 2025, o remake de Vale Tudo tem provocado reações intensas do público. A novela, reimaginada por Manuela Dias para comemorar os 60 anos da TV Globo, rapidamente se tornou alvo de queixas em plataformas como o Reclame Aqui. Um dos relatos mais comentados, feito por um telespectador de Fortaleza, acusa a produção de “ofender a inteligência do público”, afirmando que a trama se transformou em um exercício de “wokenismo vazio, panfletário e deslumbrado”, esvaziando a força simbólica das personagens e das situações.
As críticas se estendem à parte técnica. A direção é descrita como “frouxa”, a fotografia como “lavada” e a trilha sonora como desconectada da narrativa. Outro usuário, identificado como Thiago, questiona a permanência da autora à frente da novela, pedindo sua substituição imediata e citando o que considera um excesso de “tokenismo” no elenco, com foco especial em personagens como Leonardo, interpretado por Guilherme Magon, que não existia na versão original.
A comparação com o original de 1988, escrito por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, é inevitável. O enredo clássico abordava com contundência a corrupção, a desigualdade e os dilemas éticos do país — sintetizados na famosa pergunta “vale a pena ser honesto no Brasil?”. Agora, em 2025, o contexto é outro, e os desafios de atualizar a narrativa se tornaram visíveis. A proposta de Manuela Dias era homenagear o legado da trama, mas adaptando-o aos debates atuais, como representatividade, justiça social e novos conflitos morais.
Apesar das críticas, a audiência oscilou positivamente após a exibição de capítulos com maior carga dramática e algumas reviravoltas. Humberto Carrão, que dá vida ao personagem Afonso, ressaltou esse crescimento: “Vale Tudo reagiu no Ibope (…) com algumas viradas, cenas icônicas e ampla divulgação”, comentou em entrevista recente. Ele também rejeitou comparações com o passado, dizendo que esta é uma “homenagem”, não uma cópia.
Outro destaque é a personagem Odete, vivida por Débora Bloch, que enfrenta um novo dilema: seu filho adotivo Leonardo pode ser a única chance de salvar Afonso, que está com câncer. Essa virada de roteiro não existia na versão original e foi usada para inserir novas camadas dramáticas e abordar o tema da doação de medula de forma sensível. Bloch comentou que sua vilã representa a “elite do atraso” e reflete muito do Brasil de hoje.
Por trás das críticas, há uma tensão legítima entre tradição e inovação. O público que acompanhou a novela nos anos 80 tem expectativas específicas sobre profundidade, ritmo e impacto. Já os novos telespectadores podem se conectar mais com temas atuais e abordagens diferentes. O desafio está em unir essas pontas sem desrespeitar a essência da obra original. As queixas no Reclame Aqui mostram que parte da audiência ainda não se sente representada pela nova linguagem da novela, mas também revelam um interesse vivo pela discussão ética que Vale Tudo sempre propôs.
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