Uma das críticas mais ácidas ao remake de Vale Tudo nas redes sociais é de que a produção seria o Todo Mundo em Pânico (2000-2013) –franquia satírica de filmes de terror que virou um clássico cult– de sua versão original. Trata-se de uma injustiça. Afinal, o folhetim de Manuela Dias passa longe da irreverência e da anarquia dos longa-metragens –sendo muito mais um pastiche do que uma paródia da novela exibida entre 1988 e 1989.
Uma busca rápida no X mostra diversas publicações que comparam Vale Tudo aos filmes que ganharam a pecha de besteirol. “Estou assistindo como se fosse uma obra à parte, tipo uma versão de Todo Mundo em Pânico de Vale Tudo”, brincou o internauta Kriger.
“Desde que eu vi um comentário falando que o remake de Vale Tudo é o Todo Mundo em Pânico da original, eu não consigo mais parar de rir quando assisto”, acrescentou Vitor. “Esse remake realmente parece um Todo Mundo em Pânico. Os personagens parecem ser feitos numa visão fora do universo original, a direção tenta fazer algo sério, mas fica tão tosco que deixa engraçado”, completou um perfil identificado como Já.
A comparação, porém, é realmente justa? Não com Todo Mundo em Pânico. Como aponta a crítica literária Linda Hutcheon em A Teoria da Paródia (1985), a paródia tem um movimento anárquico, de ressignificação da obra original e sobretudo de profanação –de, como mostra o filósofo italiano Giorgio Agamben, tirar a referência de um “lugar sagrado”.
Essas, curiosamente, são as qualidades que mais faltam na nova versão de Vale Tudo e que sobram em Todo Mundo em Pânico. A novela das nove é muito mais um pastiche, que é considerado um tanto anódino –sem sal mesmo– por Hutcheon. Uma criação que homenageia a sua principal referência, sem subvertê-la para o bem nem para o mal.
O folhetim de Manuela Dias está longe de ser uma recriação exata dos acontecimentos da produção original, mas também é pouco criativo quando busca novos caminhos. Mesmo com alguns pontos positivos, como a mudança no segredo de Odete Roitman (Debora Bloch) e na trama de Lucimar (Ingrid Gaigher), não houve realmente uma quebra de expectativa ou uma guinada capaz de realmente mexer com o status quo.
A sensação é de que Vale Tudo fica perdida por justamente não conseguir estabelecer um diálogo interessante com a primeira versão ou mesmo com o seu público. Não à toa, a recepção tem sido um reflexo da trama: apática.
Leia também -> Resumo dos capítulos da novela Vale Tudo.
Vale Tudo foi exibida em 1988 e é um dos grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. O remake da novela celebra os 60 anos da Globo. A autora Manuela Dias está responsável pela atualização da trama, e Paulo Silvestrini assina a direção artística.
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