Foto: Instagram/Juventus |
Confesso que li o contrato da DAZN com a FIFA para o Mundial de Clubes e não me causa surpresa, mas revolta. Isso é sinal de que há tempos os gestores de futebol nos passam descrédito. Os gestores gostam de dinheiro, não de futebol. E as transmissões estão cada vez mais “chapa branca”. Proibir emissoras de criticar estádios vazios ou denunciar falhas organizacionais não é proteção de marca é censura pura. Criticar excesso de jogos parece uma ofensa, quando em nome do lucro jogadores são submetidos a uma carga excessiva de jogos.
Enquanto os grupos Globo e CazéTV, leia-se LiveMode, aceitam calar seus narradores, vendem a alma em troca de direitos bilionários. Pior ainda, transformam o futebol numa coreografia de mentiras, onde até a grama ruim, num estádio adaptado vira “excelente padrão FIFA”. Isso não é jornalismo; é propaganda enlatada.
O fundo PIF da Arábia Saudita comprou o DAZN por US$ 1 bilhão — o mesmo valor dos direitos do torneio, que o DAZN pagou a FIFA e logo virou patrocinador oficial. E o DAZN vendeu a preço de banana para transmissores regionais. Que negócio estranho, pagou muito, levou pouco e ainda assim, faz a festa. Então, quem realmente está pagando a festa e com qual intenção o faz?
O DAZN é saudita e agora gestor do canal FIFA+. Não é inocência, é sportswashing escancarado. Enquanto o regime saudita usa o Mundial para lavar sua imagem manchada por violações de direitos humanos, a FIFA aplaude e cobra silêncio. O mesmo país que persegue mulheres e criminaliza homossexuais agora dita as regras do nosso futebol. E nós? Assentimos com um “ah, mas o show é bonito” ou falamos besteiras como “os europeus estão se poupando”, ou ainda, o “futebol brasileiro joga em igual condições” …
As emissoras brasileiras são cúmplices nesse teatro. O contrato imposto pelo FIFA/DAZN é um atestado de que o futebol virou commodity. A cláusula que proíbe “comentar fora do roteiro comercial” enterra a essência do jornalismo que é questionar. Enquanto isso, a Arábia Saudita compra tudo — de WWE a Copas do Mundo — como parte da farsa da “Visão 2030”. Mas me pergunto, visão de quê? De um mundo onde ditaduras compram silêncio com petrodólares, e fãs aplaudem de joelhos?
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