Em 2023, a Blumhouse adquiriu os direitos intelectuais da popular franquia de games ‘Five Nights at Freddy’s’, criada por Scott Cawthon, e transformou essa saga do terror em um longa-metragem estrelado por Josh Hutcherson e Elizabeth Lail. Apesar das críticas mistas, o filme se tornou um sucesso de bilheteria e logo impulsionou o produtor Jason Blum a desenvolver uma sequência. Dois anos mais tarde, ‘Five Nights at Freddy’s 2’ está prestes a chegar aos cinemas nacionais – com estreia agendada para hoje, 4 de dezembro -, expandindo a mitologia de Cawthon em um divertido, ainda que falho longa-metragem.
A trama é ambientada pouco tempo depois dos terríveis acontecimentos do filme anterior, em que Mike (Hutcherson), Vanessa (Lail) e Abby (Piper Rubio) enfrentaram o perigoso William (Matthew Lillard) com a ajuda das crianças fantasmas que o serial killer sequestrou e que habitavam os trajes animatrônicos da Pizzaria Fazbear. Iniciando-se com uma chocante sequência em outro estabelecimento da hamburgueria, o pesaroso e tenso tom da narrativa já nos é entregue ao mostrar que o reino de caos e terror de William era muito maior do que esperávamos – e que, agora, cai no radar dos nossos protagonistas através de uma trama complexa e recheada de reviravoltas.
Abby, sentindo muita falta de seus amigos (no caso, Chica, Freddy, Foxy e Bonnie), descobre que talvez eles não tenham desaparecido e a abandonado: ao colocar as mãos em uma espécie de dispositivo que reproduz, em tempo real, as falas dos animatrônicos, a jovem garota é convocada por Chica para visitar uma nova pizzaria – sendo arrastada para uma artimanha que envolve Charlotte (Audrey Lynn-Marie), uma menina que foi assassinada por William, perecendo sem a ajuda de qualquer adulto ou responsável que estava presente naquele fatídico dia. Jurando vingança, sua alma ficou presta a um animatrônico único, feito especialmente para o estabelecimento em questão: Marionette. Apoderando-se da amedrontadora estrutura robótica, ela faz de tudo para sair de seu confinamento, atraindo não apenas Abby, mas uma velha conhecida que possui a chave para libertá-la – Vanessa.
A partir daí, o trio se vê numa corrida contra o tempo para impedir que Charlotte dê continuidade ao seu plano, visto que Marionette pode ativar os animatrônicos de maneira remota – e seu alvo se resume a praticamente todos os pais da cidade, encarando-os como negligentes e responsáveis por sua morte. E, apoiando-se em diversas referências aos jogos originais, Cawthon, responsável pelo roteiro, esquadrinha ainda mais elementos do universo que imortalizou sem deixar de lado o entretenimento e se valendo de fórmulas óbvias para alcançar o que deseja (que funcionam em certos momentos e deixam a desejar em outros).
O roteiro de Cawthon é abraçado pela diretora Emma Tammi, que retomas as rédeas após ter encabeçado o primeiro capítulo da franquia. Veterana nesse sangrento cosmos, Tammi reproduz diversas incursões que explorou no longa anterior, seja nas cenas de jumpscare, seja explorando o relacionamento entre Mike e Abby e entre Mike e Vanessa. Em outras palavras, a realizadora emula diversos clássicos do gênero, ousando aqui e ali com alguns planos holandeses para denotar a angústia das vítimas da antagonista, e o conhecido Efeito Hitchcock que reitera a atmosfera explorada. É claro que, num âmbito mais artístico, não há nada de novo para ser visto – mas essa não é a ideia do projeto.
Centrado essencialmente no escapismo cinematográfico e no mais puro entretenimento, o resultado do longa é mais positivo que o predecessor, podendo abranger outras camadas que não podiam ser exploradas em virtude da costumeira apresentação dos personagens. E, por mais que Mike não trabalhe mais como segurança noturno da pizzaria, ele é colocado como um fio condutor que mantém-se fiel ao âmago da saga de games – principalmente em uma divertida cena que é uma carta de amor direta ao primeiro jogo. Dessa forma, Tammi e Cawthon conseguem criar três núcleos diferentes que caminham para uma reviravolta final que, mesmo previsível, nos prepara para um provável terceiro capítulo.
O elenco faz um bom trabalho, com destaque a Lail como uma versão mais traumatizada e mais carregada de segredos, cujas escolhas falhas entram em conflito direto com Mike, Abby e todos que conhece. Lidando com alucinações de seu psicótico pai, ela tenta se desvencilhar dos comentários sobre sua sanidade mental à medida que procura consertar o que fez – e Lail, dessa maneira, consegue trazer mais profundidade à personagem que encarna. Como se não bastasse, temos a presença de nomes como Skeet Ulrich e Mckenna Grace em papéis recorrentes que ajudam a trazer dinamismo para a história, ainda que soem descartáveis quando colocados no panorama geral.
O maior problema vem com o ato de encerramento – repetindo o erro crasso do filme de 2023. Os dois blocos iniciais se mostram pragmáticos o suficiente para se correlacionar com a ambientação do original, apenas para abrir margem para um anticlímax frustrante que vem com uma “batalha final” efêmera demais para ser levada a sério e uma “resolução” que apenas emerge como fanservice, ou seja, aberta demais para concretizar o que queria. Alguns diálogos também fogem de uma preocupação estilística, valendo-se de tantas outras obras para se compor.
Caso seja possível deixar os amadores equívocos de lado, ‘Five Nights at Freddy’s 2’ é um bom entretenimento que se desenrola como o previsto e que se vale da química do elenco para encontrar sucesso. Todavia, não espere uma obra-prima do terror, principalmente porque o objetivo do filme não é esse – e sim divertir os espectadores como pode e dentro de uma estrutura limitada, mas funcional.
