08/07/2025 08:49

Coluna do professor #419: Globo vs. CazéTV

Foto: Reprodução/Montagem NT

Confesso que assisti ao Mundial de Clubes da FIFA com um olho na Globo e outro na CazéTV, e a experiência é como trocar um casamento de 50 anos por um Tinder radical. A Globo me recebe com toalha engomada, narração didática, análises técnicas e um respeito quase religioso pelo protocolo, além dos comentários, no mínimo duvidoso, de Roger Flores. Seu público, fiel como torcedor de Série B, é cativo por décadas de hábito, mas sinto falta do sangue nas veias. É como ouvir um concerto de Bach, impecável, mas previsível demais para um esporte que nasceu nas vielas com operários explorados das fábricas inglesas. 

Já a CazéTV entra como um urubu no pique do segundo tempo. São palavrões, gírias de arquibancada e uma cumplicidade que beira o caos, um abraço a Rômulo Mendonça. Seu DNA é o YouTube, onde 72% do público tem menos de 30 anos e a paciência dura menos que um Stories. Admito que a energia é contagiante, mas quando o narrador força ”caralho, mano!” a cada cruzamento, questiono se o “jeitão torcedor” não virou caricatura. É futebol como meme, divertido, mas raso como poça de chuva. 

A diferença de plataformas explica tudo. Na TV aberta, a Globo prega para fiéis que aceitam comerciais de margarina entre os lances; no streaming, a CazéTV cultiva nômades digitais que solicitam “volta, Cazé!” como se fosse um influencer. Enquanto a audiência da TV envelhece (média de 55 anos), a CazéTV cresce entre jovens que nem sabem quem foi Silvio Luiz e talvez, nem queiram saber. O futebol virou tribo, de um lado, os que buscam credibilidade; do outro, os que querem identidade, e há os pasteizinhos gourmet entre os lados. 

Ambos são modelos válidos. A Globo aprisionou-se num casulo de “bons modos” onde até um “vai tomar no c*!” vira “expressão vigorosa do ânimo popular”. A CazéTV, ao jogar etiqueta no lixo, às vezes confunde liberdade com falta de repertório. Vejo valor nos dois lados, mas nenhum acerta sozinho. A emoção do futebol solicita técnica com alma, não robôs, desinformados ou palhaços. 

Concluo lembrando que o futebol é rua, é paixão, é imprevisibilidade, mas também é tática, história e respeito. Se a Globo é um museu e a CazéTV um TikTok ao vivo, pergunto: será que o futuro das transmissões está num híbrido impossível: Galvão Bueno com um piercing e um “porr*, meu!” no meio da narração? 

Sobre o autor: 

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias.





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