Erros de continuidade vexatórios, um casal forçado que não existia na trama original e uma protagonista com pouca função na trama. O que não faltam são motivos para criticar o remake de “Vale Tudo” (Globo), que decidiu apostar na total leveza e está demorando a engatar as tramas mais dramáticas da novela original. A seguir, uma pequena lista das irritações do momento:
Erros de continuidade – A nova “Vale Tudo” anda com muitos problemas técnicos e erros de continuidade. Como disse a autora Maria Adelaide Amaral outro dia sobre a novela, o padrão Globo de qualidade mandou lembranças.
Só para ficar em alguns casos: o primeiro foi a falha técnica no dia 20 de maio, em que uma imagem da GloboNews entrou como um fantasma no meio da novela por 45 segundos.
Nesta semana, dois erros grosseiros de continuidade: no capítulo de terça (17), Odete chega num vestido vermelho para o vernissage da irmã Celina. Recebe a ligação de Nise e sai de repente do evento, deixando lá o amante Valter. Corta para Odete dirigindo o carro no meio da estrada, em direção ao casebre de Nise, mas com um outro vestido. Será que ela se trocou no carro?
No capítulo de segunda (16), um erro menos grave, mas que deu certo ruído: na primeira cena, tia Celina está no estúdio da Tomorrow fazendo poses para um ensaio de fotos com seus arranjos de flores. É assistida por Solange, Sardinha, Mário Sérgio, o namorado Esteban e o fiel mordomo Eugênio. Na cena seguinte, sem cortes, ela já está à beira da piscina de sua mansão com Heleninha, Ivan, Bruno –e o mordomo Eugênio já de volta ao batente. Uma ou duas cenas de outros personagens no meio dessa sequência teria resolvido a estranheza.
Solange e Renato – Solange terminou o namoro com Afonso, enquanto seu chefe Renato viu sua ex-namorada Leila trocá-lo pelo próprio primo. O que fez a autora Manuela Dias? Decidiu fazer de Solange e Renato um casal, algo que não existia na trama original de 1988. Talvez desse para engolir a inusitada aproximação entre chefe e funcionária que trabalham há tantos anos juntos se a coisa fosse construída com mais calma –mas, do jeito que está, ficou pura forçação de barra.
Sem falar que Renato está repetindo o mesmo erro que cometeu com Leila: se envolver com alguém do trabalho, ainda por cima sua subordinada. Do lado de Solange, apesar do enfoque feminista em outros temas da novela, ficou parecendo que a “chérie” não pode passar nem duas semanas solteira para ser feliz.
Leveza demais – Quando Manuela Dias começou a imprimir um tom mais leve do que a história original em seu remake, eu até gostei. A vilã Maria de Fátima, por exemplo, tem uns diálogos mais irônicos e espirituosos na versão de Bella Campos do que Glória Pires tinha nos anos 80. Só que a leveza tomou conta geral da novela, que está quase com uma cara de trama das 19h. A história do bebê reborn, por exemplo, rendeu umas cenas no limite do besteirol –ainda bem que começou e terminou rápido.
Outro dia, Raquel (Taís Araujo) e Heleninha (Paolla Oliveira) fizeram um duelo de samba competindo pela atenção de Ivan –fiquei só imaginando Regina Duarte e Renata Sorrah se tivessem que encarar a mesma situação. O namoro e a exposição de arranjos florais de Celina também são uma trama cor-de-rosa sem o menor conflito.
No momento, só duas tramas têm um peso maior: a entrada de Leonardo, o filho rejeitado de Odete; e a intenção de Marco Aurélio de roubar a filha adotada da irmã que está em coma. Mas é pouco.
Já passou da hora de retomar algumas das grandes tretas que fizeram a fama da primeira “Vale Tudo”: Raquel rasgando o vestido de noiva de Fátima; o troco que Solange dá na inimiga que furou o seu olho; a gravidez que traz problemas à vilã etc.
Raquel – Vivida com competência por Taís Araujo, a grande heroína de “Vale Tudo” brilhou no primeiro mês da novela, nos grandes embates com a filha Maria de Fátima, e depois ao terminar com Ivan sem acreditar que ele não roubou o milhão de dólares. Agora, está quase sem conflito, vivendo um romance “Malhação” com o administrador Otávio e tendo crises de ciúme ao ver Ivan com Heleninha. É muito pouco para uma protagonista.
O “revival” de Vasco e Lucimar – A briga pela pensão de Jorginho é uma das boas tramas de “Vale Tudo” e acabou se provando uma verdadeira ação social, aumentando a busca pelo assunto nos aplicativos da Defensoria Pública de todo o país.
Em vez de apostar num caminho realista para a história, com Lucimar exigindo cada vez mais a pensão do ex-marido, agora a novela decidiu apostar num “revival” romântico dos dois, dando uma guinada para tornar Vasco um cara simpático, dedicado e empreendedor. Pena que esse rumo cor-de-rosa para a história não corresponde ao que a maioria das mães na Justiça vive na realidade.